Na USP, negras são minoria mesmo em cursos com maior presença de mulheres.

Em 2010, das 2.366 mulheres que se matricularam na instituição, somente 306 se declararam negras, ou seja, 14,85%.




Rute Pina - Brasil de Fato,

"Onde estão as mulheres negras na USP?" é o título do último estudo feito pelo estudante de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), Hugo Nicolau, em seu blog Desigualdades Espaciais. Nele, o pesquisador conclui que as mulheres negras são minoria mesmo em cursos nos quais a presença feminina é massiva.
Segundo o pesquisador, no campus Butantã da universidade, em 2010, das 2.366 mulheres que ingressaram na instituição, somente 306 se declararam negras, ou seja, 14,85%. Em todo corpo discente da USP, o percentual das mulheres negras cai para 5,7%.
No mesmo ano, apenas duas eram negras das 23 alunas aprovadas no curso de Terapia Ocupacional, cujo índice de mulheres ingressantes era o maior da universidade no período (92%). Já na turma do primeiro semestre do curso de Fisioterapia, cujo corpo discente era composto por 80% de mulheres, não havia nenhuma negra.
Outro exemplo citado foi o curso de Editoração, cuja participação de mulheres é de 75%. Em 2010, só uma mulher negra entrou entre 20 alunas. Em Medicina Veterinária, na qual se matricularam 103 mulheres, apenas cinco se declaram negras ou pardas.
Cenário
Para a militante do Núcleo de Consciência Negra (NCN) da USP, Cristiane Maria de Paula, os dados do levantamento explicitam o racismo institucional do Brasil. "Somos minoria na academia, na sala de aula, no corpo docente; mas a maioria das terceirizadas são mulheres negras. E isso tem a ver com uma realidade na qual muitos negros nem mesmo conseguem terminar o segundo grau", disse.
No Brasil, as mulheres negras representam 25,5% da população, de acordo com dados do último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme o estudo, as negras representam quase a metade das mulheres brasileiras (49,9%).
Particularidades
Segundo Cristiane, no caso específico das mulheres, os obstáculos são ainda maiores pelas dificuldades e desigualdades sociais que elas enfrentam. "Muitas mulheres negras que estão em idade de começar a universidade estão trabalhando ou enfrentam dificuldades como uma gravidez indesejada precocemente", ponderou.
Cristiane é estudante de História, o curso com o maior número de mulheres negras ingressantes, segundo o levantamento do Desigualdes Espaciais. São 12 de um total de 105 estudantes.
No entanto, ainda assim, ela afirma que a discussão sobre gênero na grade ainda é restrita, principalmente sobre o papel da mulher negra. Mas ela acredita que o cenário tem mudado nos últimos anos, mesmo sem um sistema de cotas implementado, e destaca sua importância na acadêmia. "A mulher negra tem impacto na academia, mesmo que sua voz esteja muito abafada ainda", frisou.
Dados
O blog blog Desigualdades Espaciais já realizou dois levantamentos Ambos indicaram a disparidade racial na USP e a diferença na distribuição de gênero entre os cursos. O site reúne um conjunto de mapas com distribuições populacionais no território da instituição, através da análise de dados do vestibular da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), da Prefeitura de São Paulo e do IBGE.
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