Progressão continuada e insegurança são vilões da educação em SP, segundo pesquisa.


Rafael Gregorio na Carta Fundamental,

Tradicional inimiga de pais e professores, a progressão continuada agora está na mira também dos estudantes da rede pública paulista. E, se antes a repulsa era motivada pela preocupação com um enfraquecimento de autoridade em sala de aula, agora sua principal razão é a baixa qualidade do ensino.
O mecanismo de não retenção é alvo de críticas de 94% dos pais, 75% dos alunos e 63% dos professores, e a maioria justifica a escolha pela passagem de ano sem aquisição do conteúdo (opção de 82% dos professores,67% e 80%, respectivamente). Na contramão, o temor de redução da autoridade do docente afeta 15% destes, 23% dos pais e 17% dos alunos.
As conclusões integram estudo encomendado pela Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) ao Instituto Data Popular, divulgado nesta semana e baseado em oito grupos de discussão e em 2.100 entrevistas com professores, pais e estudantes.
“O pai percebeu que a aprovação continuada faz com que seu filho não aprenda. Ele termina o Ensino Médio e não consegue ter um emprego a contento, porque a escola não fez por merecer significado na vida do aluno”, diz Maria Izabel Azevedo Noronha, presidenta da Apeoesp e coordenadora da pesquisa.
“Antes de pensar se deve haver aprovação automática ou não, devemos nos questionar quais mecanismos tem efetivas condições de garantir que o aluno aprenda a matéria. O processo de avaliação é um referencial importante”, afirma Renato Meirelles, presidente do Data Popular.
Para sete em cada dez estudantes, as escolas da rede estadual são regulares, ruins ou péssimas, e quase metade (46%) dos alunos da rede estadual de São Paulo admite que já passou de ano sem ter aprendido a matéria.
“Não existe um único responsável pelos problemas. Esse dado é consequência, não causa. Faltam professores, não há reposição de aulas, falta estrutura e sete em cada dez pais nunca participa das reuniões do Conselho Escolar. Ninguém gosta de dar notícia ruim, mas depois de tudo o que vimos, não dá pra esperar algo diferente”, explica Meirelles.
Pais e alunos também divergem com relação ao papel primordial da escola. Enquanto 48% dos responsáveis aponta a formação de cidadãos, 36% dos alunos escolhem o ensino do conteúdo das disciplinas e 35%, o preparo para o mercado de trabalho. Ambos coincidem, entretanto, na compreensão de que nenhum desses objetivos é atingido na escola hoje.
Segurança
A falta de segurança é outra preocupação recorrente, apontada por 37% dos pais, 32% dos professores e 25% dos alunos. Entre estes, mais de 60% relatam não se sentirem seguros no entorno da escola, enquanto 44% têm medo até mesmo dentro dela. Casos recentes de violência no interior das unidades de ensino chegaram ao conhecimento de 88% dos docentes ouvidos.
“O governo estadual tenta resolver o problema da violência com grades, câmeras e um monte de coisas que fazem a escola ficar longe de ser um espaço aberto de convencimento e persuasão”, afirma Maria Izabel.
O levantamento demonstra ainda dados sobre a frequência escolar. Os estudantes dizem perder aula em média cinco vezes ao mês. Quando isso ocorre, o horário não é preenchido por um substituto, segundo 64% dos alunos entrevistados. Os pais, entretanto, pensam que os filhos perdem aula por ausência de docentes apenas duas vezes por mês.
Sobrecarga e desvalorização
Os docentes apontam a baixa remuneração e a decorrente sobrecarga de trabalho como determinantes para a abstenção e a falta de tempo para preparar aulas ou corrigir trabalhos e provas. Mais de 40% deles complementam a renda em outras redes, como escolas particulares ou municipais, e metade leciona em mais de uma escola pública estadual.
A maioria dos entrevistados também apontou que a capacitação é uma das medidas a serem adotadas para a melhoria da educação na rede estadual de ensino. Outras medidas vistas como potencialmente benéficas incluem implementos de infraestrutura e investimento no relacionamento entre alunos e docentes.
Resposta
Em nota ao jornal Folha de S.Paulo, a Secretaria de Educação disse que acredita em uma atuação conjunta de polícia, comunidade escolar e família para abordar a questão da violência nas escolas.
Com relação à progressão continuada, a avaliação da Secretaria é que o modelo foi aperfeiçoado no final do ano e as possibilidades de retenção foram ampliadas, permitindo que eventuais defasagens de conhecimento sejam corrigidas mais prematuramente.
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