Rodoanel Norte vai piorar trânsito em SP, diz especialista

Espaço de caminhões liberado nas Marginais será rapidamente tomado por automóveis, afirma o engenheiro Horácio Figueira, consultor em transportes

Estímulo ao transporte individual.

Uso de carro deve continuar em alta em São Paulo



Regina Rocha no Mobilize

Quando completo, o Rodoanel de São Paulo irá tirar cerca de 20 mil caminhões por dia das avenidas Marginais (Tietê e Pinheiros), afirmou o prefeito paulistano, Fernando Haddad, na semana passada. O número representa pouco - menos de 10% - do total de veículos de carga que passam pela cidade de São Paulo todos os dias, conforme dados da CET - Companhia de Engenharia de Tráfego. Mas mesmo esse espaço será logo ocupado por carros particulares, diz o engenheiro Horácio Figueira, especialista em transporte.

Orçada em R$ 6,5 bilhões e licitada no final do ano por R$ 3,9 bilhões, a obra do Rodoanel Norte em tese contribuiria para desafogar o tráfego e reduzir a poluição atmosférica na área urbana. Mas, segundo o engenheiro, as pistas liberadas serão ocupadas por automóveis e também por outros caminhões que chegam ou saem da cidade com mercadorias de todos os tipos.

"Supondo que o Rodoanel Norte consiga realmente tirar os 20 mil caminhões da cidade, isso corresponderia mais ou menos a abrir mais duas pistas na avenida, que logo seriam tomadas por novos congestionamentos, como aconteceu quando a Marginal foi ampliada, em 2010. O mesmo fenômeno aconteceu recentemente, com a restrição à circulação de caminhões nas Marginais: o desafogo durou duas semanas, mas logo os carros ocuparam o espaço liberado", explica o especialista."No caso do Rodoanel Norte, esse processo de reacomodação do trânsito vai levar pouco mais de um mês e daí para tudo de novo", avalia Figueira.


Transporte individual x transporte público

Para o especialista, o Rodoanel será mais um indutor ao uso do transporte individual, que é o grande vilão do trânsito urbano. E cita alguns números: a frota atual de 7 milhões de veículos deverá chegar a 9 milhões em 2020, agravando ainda mais o problema do transporte: "Abrir mais vias para automóveis é uma armadilha sem saída, porque em poucos meses essas novas faixas são ocupadas por congestionamentos. O Rodoanel vai virar uma avenida periférica e, no caso do Rodoanel Norte, será uma segunda avenida Marginal, que levará todos os problemas urbanos da cidade para a região da Cantareira", prevê o especialista.

Ele acredita que o investimento deveria ser direcionado a projetos que priorizem o transporte coletivo, como metrô, sistemas sobre trilhos e corredores e faixas exclusivas para ônibus. "Em vez do Rodoanel Norte seria possível fazer um trem urbano ligando Itapevi até Cumbica", diz Figueira.  Para o transporte de cargas, os governos devem pensar em corredores ferroviários e obras hidroviárias, como o Hidroanel proposto pela Universidade de São Paulo.

Horácio Figueira sugere algumas comparações: se os R$ 6,5 bilhões do Rodoanel Norte fossem aplicados em transporte público, teríamos:

    400 km de corredores de ônibus, com capacidade para 4 milhões de passageiros/dia;

    60 km de trem de superfície (Itapevi até Dutra e Aeroporto), para  1,2 milhão de passageiros/dia;

    30 km de metrô em túnel shield (o mais caro), com capacidade para 1,5 milhão de passageiros/dia;


Em contraponto, os 45 mil carros/dia previstos para o trecho norte do Rodoanel, transportarão apenas 63 mil passageiros/dia.

Riscos sociais e ambientais
O projeto do Rodoanel Norte correrá sobre a Serra da Cantareira, em uma série de viadutos de grande porte e alguns túneis. A obra, que passará a apenas 11 km do Centro, vai cortar áreas densamente povoadas e trechos preservados da Mata Atlântica, região de parques e mananciais.

A Cantareira integra a Reserva da Biosfera da Unesco e cumpre papel importante no equilíbrio térmico para o clima de São Paulo. Estudiosos, como o biólogo Carlos Bocuhy, o engenheiro florestal Mauro Victor, e o professor Aziz Ab' Saber (falecido em 2012) já condenaram a continuidade do projeto.

Além deles, urbanistas como Kazuo Nakano, Nabil Bonduki e João Whitaker, paisagistas como Rosa Kliass, e médicos especialistas em poluição urbana, como Paulo Saldiva, se posicionaram contra a obra.

Link: http://www.mobilize.org.br/noticias/
Informações para a imprensa:
Regina Rocha (11 9 9440-4189)

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