Livro apresenta reflexão sobre as raízes do rock
Guilherme Bryan na Rede Brasil Atual
Você pode nunca ter ouvido falar em Louis Jordan, Gene Vincent, Eddie Cochran, Hank William, Fats Domino, mas provavelmente sabe quem é Chuck Berry (com seu ‘duck walk”), Bill Haley, B.B. King, Muddy Waters, Buddy Holly, Jerry Lee Lewis, Little Richard, Richie Havens, Johnny Cash e Roy Orbinson, entre outros. Todos eles são personagens do ótimo livro “As Raízes do Rock”, do jornalista francês Florent Mazzoleni, que acaba de ser traduzido para o Brasil e lançado pela Companhia Editora Nacional.
Ricamente ilustrada, o que dá um charme todo especial, a obra se detém tanto sobre as origens musicais do rock, como contextualiza o cenário social e político em que ele foi se desenvolvendo. A conclusão, após a leitura, que esse fenômeno cultural, que revolucionou o século XX, não surgiu do nada, mas foi fruto de um longo processo.
Florent Mazzoleni considera um marco importante nessa história o momento em que Elvis Presley apresentou o hoje clássico “Hound Dog”, no programa de maior audiência e prestígio da televisão norte-americana branca, “The Ed Sullivan Show”, em 9 de setembro de 1956. Resultado: 82,6% da audiência da TV naquele horário.
Na terceira e última aparição do “rei do rock” no programa, Ed Sullivan declarava: “Eu tenho que dizer a Elvis Presley e ao país que ele é um rapaz de boa índole. Desde que esse programa começou, nós nunca tivemos uma experiência tão agradável com um convidado”.
Para identificar as origens do rock, o livro retorna à década de 1930 indo em busca das tradições musicais rurais do sul dos Estados Unidos, encontrando o boogie-woogie, um ritmo extremamente dançante. Quase ao mesmo tempo, nas big bands de jazz, também aparece o “be-bop”, outro precursor importante. Mas há raízes do rock também no blues presente no delta do rio Mississipi, com astros como Charley Patton; na música gospel, nascida nas igrejas negras, revelando nomes como o da cantora Lucy Campbell; e no country, de Jimmie Rodgers e Delmore Brothers.
Claro que a guitarra elétrica não poderia ficar de fora dessa história e está muito bem documentada a origem do instrumento, desde a primeira criada por Adolph Rickenbacker, em 1937, com base em modelos de guitarra havaiana. Rapidamente, o instrumento foi popularizado pelos dedos de Charlie Christian.
Há um rápido passeio pelos selos independentes, caso da Capital Records e da Black & White Records, que ajudaram a consagrar o rhythm’n’blues, precursor mais direto do rock e praticado por lendas como Roy Brown. Até chegar a Nova Orleans, considerada o berço do novo ritmo chacoalhante, com artistas como Dave Bartholomew. Não faltam também personagens curiosos, caso de Eddie “Guitar Slim” Jones, que brilhou em Nova Orleans, na década de 1950.
É nessa década, aliás, que surge a base social e política para a consagração do rock and roll. Aparece a classe média, desenvolvendo-se a ideia do “sonho americano”; a televisão surge como novo veículo de comunicação popular e capaz de reunir as mais diferentes faixas etárias e classes sociais diante dela; e desenvolve-se o fenômeno dos adolescentes, como nova faixa de consumidores com poder econômico e capaz de influenciar as escolhas e tendências dos adultos.
Foi essa juventude, por exemplo, que popularizou as jukeboxes e fez com que a indústria fonográfica desenvolvesse os discos e seus aparelhos de reprodução. Ao mesmo tempo, fica exposta a divisão racial entre brancos e negros nos Estados Unidos, sendo o rock responsável por romper definitivamente essas barreiras, mas claro que a base de muitas críticas e preconceitos.
Outro marco importante foi a gravação de “Rocket 88”, escrita por Ike Turner, tocada pelos Kings of Rhythm e cantada pelo saxofonista Jackie Brenston. Lançado pela gravadora de Sam Philips, esse é considerado o primeiro rock da história. O livro também traz a história de músicas como “Maybellene”, “Rock Around The Clock” (responsável por inserir o rock no cinema), “See You Later Alligator”, “That’s All Right Mama”, “Tutti Frutti” e “Great Balls of Fire”.
Boa parte delas foi tocada pelo marcante DJ Alan Freed, que é desmoralizado em função de cobrar dos artistas para executar suas músicas (o popular jabá), mas teve papel importantíssimo na história do rock, aqui devidamente reconhecido. Até chegar à “morte do rock’n’roll”, quando Elvis Presley é obrigado a se alistar no exército e a morte e os escândalos se aproximam de outros astros do gênero.
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