Moradores de Sabino, SP, se comunicam com dialeto próprio

Sabinês’ é tradição na cidade e passa de pai para filho. 

Ninguém sabe ao certo quem inventou, mas, a linguagem é famosa. 


G1
Em Sabino, SP, os moradores criaram um dialeto diferente para se comunicar. O denominado “sabinês” é famoso na cidade e passa de pai para filho. A praia às margens do Rio Tietê é o cartão postal da cidade, que tem cinco mil habitantes, mas em Sabino, a principal atração está na boca do povo. No salão de barbeiro, a conversa é diferente e para quem não domina o vocabulário, as palavras soam estranho.
“Li num besa lafa mosme. Num gápa, num gapô, o tenpe cafi sai mosme”, conversa com os clientes o barbeiro João Francisco Rodrigues da Silva Neto.
O significado: cliente que não paga, o serviço não é bem feito, não. O barbeiro aprendeu o "dialeto" quando ainda era criança. "Os mais velhos iam falando e a gente ficava igual papagaio , sempre aprendendo né, então a gente vai aprendendo", conta. A linguagem é a preferida na hora das fofocas. "Geralmente cidade pequena, tem muita fofoca, então para o pessoal não ficar sabendo, todo mundo fica perguntando, então o pessoal fica aí se comunicando de trás para frente, para ver se despista as pessoas, para ver se as pessoas não ficam sabendo”, explica o farmacêutico João Luiz Gabanella.
Em Sabino, até o comércio entrou na onda da língua de trás para frente. Uma das lojas da cidade se chama "Nobisa", que é o nome da cidade ao contrário. Quem liga precisa fazer o pedido neste idioma. Já pensou pedir o material assim:
Cliente: "lafa loscar, jafar dodipe depo lafa"
Vendedor: "um longá de tatin, torce, uma raba de noca, doafi , ona, gapá, a tasvi ou no tãocar"
“Quando é um amigo, a gente já faz um pedido de trás pra frente. Ele pediu dez sacos de cimento, um galão de tinta e uma barra de cana e sempre na brincadeira, ele pergunta se pode comprar fiado, eu respondo que pagamento tem que ser à vista ou no cartão", explica o comerciante Henry Ozório Dias.
No restaurante, o dono que domina o dialeto, explica o que tem no cardápio do dia.
Dono do restaurante: "Tamirma, Nerca dassá, saguinli, vou otofe, rosá , jãofe"
"Eu falei que tinha arroz, feijão, carne assada, linguiça e ovo", traduz Emerson Verona. O dialeto também é usado como estratégia pelo time de futebol da cidade. Falando dessa forma, fica difícil para os adversários fazerem a marcação em campo na área.
"Eles ficam meio perdidos mesmo, até ganhamos bastante resultado já com isso aí", brinca o jogador Igor Miranda. O técnico confirma. “A gente fala ‘labo dogunse’, que é no segundo, e o pessoal não sabe que tipo de jogada estamos armando, dá bastante resultado sim”, afirma Afonso Gomes da Silva. Ninguém sabe ao certo como essa tradição começou. Alguns dizem que foi por causa dos turistas que vinham à praia. Os moradores de Sabino então inventaram o dialeto para despistar quem vinha de fora.
Para o professor de português, Darvino Concer, o fenômeno é válido na comunicação. “É uma forma inédita de linguagem, eles falam de trás para frente com sílabas. Eles têm jeito de dividir em sílabas as palavras, para então falar ao contrário. Não existe uma estrutura linguística, mas, por trás existe uma estrutura de memória, o que é interessante”, destaca. Com a habilidade que só se vê na cidade, o povo mantém a tradição.
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