DERSA QUER EXPULSAR ANIMAIS DA CANTAREIRA


Insanidade e arrogância patológica movem os empreendedores na teimosia em construir o Trecho Norte do Rodoanel

Cidade vista da Serra da Cantareira
Foto: Celso Heredia do Jornal da Serra da Cantareira


Jornal da Serra da Cantareira


Em matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo de 15 de abril, (clique para ler na íntegra) a DERSA anuncia licitação, em 20 de abril, para contratar equipe de 'especialistas' que, durante 36 meses, terá como tarefa adentrar a Mata Atlântica do entorno do Parque Estadual da Cantareira para afugentar os animais de médio e grande porte, preparando caminho para as obras do trecho norte do Rodoanel. E quanto aos pássaros ou outros filhotes que ainda estão nos ninhos? E todo o ecossistema que será brutalmente agredido?


Xô, bicho!
Só o lead da matéria já tropeça em estrondosos equívocos. Veja você mesmo: "Com buzinas e apitos, especialistas pretendem fazer o remanejo da fauna de Mata Atlântica no Trecho Norte, buscando reduzir impacto ambiental". Não é mesmo a expressão da incoerência??? E prossegue: "A empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa) vai contratar uma equipe técnica para afugentar bichos nativos na região de Mata Atlântica por onde passará o Trecho Norte do Rodoanel". (grifos nossos)
Os empreendedores dessa megaobra, cujos três outros trechos não minimizaram o sufoco dos engarrafamentos, - e tampouco diminuirá com a construção do trecho norte - agora passaram dos limites, mergulhando no grotesco, no despropósito, que só mesmo uma camisa de força e as paredes de um sanatório poderão deter: sob o termo 'manejo', utilizado sem o menor critério, querem na verdade afugentar os animais com apitaço e buzinaço no meio das matas da Cantareira! Uma das florestas mais importantes do nosso planeta e vital para a mínima saúde de quem habita a cidade de São Paulo!!
Tudo pelo rodoviarismo, este modelo ultrapassado! Tudo pelo Rodoanel! Tudo pela ganância de poucos e poderosos.
O trecho norte do Rodoanel não vai reduzir nem 5% do trânsito e da poluição da cidade de São Paulo.  Aliás, essa poluição será jogada no entorno do que restar de floresta e, por consequência, aumentará o estrago. Se assim fosse, os três outros trechos já construídos teriam minimizado o sufoco dos engarrafamentos, e todos sabem que não diminuíram. Além disso, os órgãos ambientais - que aprovaram essas construções - hoje acumulam os empreendedores com medidas punitivas, pois nada do que havia sido proposto para 'mitigar' os impactos das obras foi concretizado. E mais: desta vez cresce de modo crucial a grande ferida que é a cidade de São Paulo, com uma população doente e neurotizada, quase sem ar para respirar, vivendo em clima de deserto e diariamente envenenada por CO2. Enquanto isso, o transporte público também continua no ranking dos desprezados.
Orçado em R$ 6,1 bilhões (que na verdade serão muito mais), tudo demonstra que o trecho norte é desnecessário, mas os poderes públicos manipulam a opinião pública. Inventam benefícios, fazem vista grossa aos desastres que irão provocar, descolorem os relatórios de impacto ambiental. Só não contam que, por pura vaidade, não querem deixar uma obra inacabada... E jogam a gritante ganância sob o tapete do asfalto.  
Mesmo assim, o Estudo de Impacto Ambiental produzido para o empreendimento não conseguiu esconder que há na região 354 espécies de anfíbios, répteis, mamíferos e aves, além de uma infinidade de insetos. Segundo informou, na matéria do OESP, o biólogo Luís Silveira, curador das coleções ornitológicas do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), "muitas espécies detectadas na região são extremamente sensíveis às alterações em seu hábitat".
Veja a seguir - e nem precisa ler nas entrtelinhas para notar - o discurso bonitinho mas cheio de contradições. Só não dá para saber exatamente se eles não sabem o que falam ou se minimizam a inteligência alheia.

Está na matéria do Estadão: "Sem dúvida há risco de desequilíbrio ambiental", admite Marcelo Arreguy Barbosa, gerente da divisão de gestão ambiental da Dersa. "Por isso temos uma equipe para fazer o monitoramento durante a obra".
Buzinaço? Apitaço? Remoção de animais? De vegetação? Etc Etc?
Mais um pouco: O presidente da Dersa, Laurence Casagrande, acredita que o trecho mais preocupante em relação ao impacto ambiental é a região próxima da Serra da Cantareira. "O restante já é uma área composta por terrenos rurais, que não têm mais cobertura de floresta" (???), afirma. "Mas nossa política é de reduzir os danos."
Outro trecho: Entre 2009 e 2010, o biólogo Silveira coordenou uma equipe que fez estudos ambientais na área do Trecho Sul do Rodoanel. Participaram desse projeto 25 profissionais do Museu de Zoologia. Ali, se depararam com muitos animais em risco de extinção. "A região ainda abriga populações importantes de espécies, como a onça-parda, o macuco, a jaguatirica, o sagui-da-serra-escuro, os passeriformes cigarra-verdadeira e pixoxó, entre tantos outros", diz o pesquisador.
Conforme o OESP revelou em abril de 2009, mais de cem animais silvestres morreram nas obras de construção do Trecho Sul em áreas de Mata Atlântica. Eram veados catingueiros, bugios, preguiças de três dedos, lagartos teiús, gambás, cobras, corujas orelhudas.
Para Silveira, o melhor jeito de diminuir a interferência na fauna é contemplar esse impacto na definição do traçado do Rodoanel. "Quanto menor a interferência na floresta, melhor. E, de maneira similar ao já realizado no Trecho Sul do Rodoanel, o monitoramento de fauna continua sendo um componente fundamental", alerta. De acordo com o presidente da Dersa, a cada nova obra a companhia melhora seus métodos. "Aprendemos fazendo. Às vezes, errando. Mas de cada processo tiramos lições importantes", diz.
Todos eles ganhando ótimos salários. Enquanto nós - assim como toda a vida saudável no entorno da cidade de São Paulo - pagamos por isso.


Isabel Raposo

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